sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A diácona de Cencreia

Nelson Kilpp *

Arte: João Soares
A história da igreja cristã é mar­ca­da pela atuação de mulheres nas mais diversas funções. Algumas dessas mulheres são conhecidas. A maioria, não. Muitas mulheres aparecem em textos marginais. Por exemplo, no final da Carta aos Romanos (16.3-16), Paulo envia saudações a diversas mulheres da comunidade de Roma, em sua maioria desconhecidas: alguém de nome Maria, uma apóstola chamada Júnia, além de Trifena, Trifosa, Pérside, Júlia e, por fim, a mãe de Rufo e a irmã de Nereu. Todas essas mulheres eram, sem dúvida, importantes na comunidade de Roma para que Paulo as mencionasse explicitamente em sua carta. Mas não sabemos o que faziam.
A mulher incumbida de levar a carta de Paulo a Roma, contudo, é apresentada com alguns detalhes: “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, diácona da igreja de Cencreia, para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido a patrona de muitos e de mim inclusive” (Romanos 16.1s).
Ao que parece, Febe era uma pessoa muito importante na comunidade de Cencreia, um dos portos de Corinto, na atual Grécia. Paulo a chama de “irmã”, como se costumavam chamar os membros de uma comunidade, considerada uma grande família. Além disso, Febe era diácona, ou seja, tinha a responsabilidade pelos serviços da comunidade, não só as obras de caridade, mas também os serviços vinculados ao culto. Presume-se que os cultos eram realizados em sua casa; cabia a ela, portanto, a função de acolher os membros, preparar as reuniões, coordenar a ceia do Senhor e até pregar.
Provavelmente, a casa de Febe era também o endereço de referência da comunidade, buscado por viajantes cristãos que passavam por Corinto. Por isso ela é chamada por Paulo de “patrona”, ou seja, alguém que dava proteção a pessoas necessitadas e auxílio jurídico junto às autoridades da cidade. Forasteiros que passavam por Corinto podiam ter problemas com as autoridades locais. Por isso era muito importante conhecer uma pessoa do lugar que pudesse prestar ajuda em caso de necessidade. Febe dava esse tipo de assistência. Essa hospitalidade era uma das virtudes mais importantes da igreja antiga, que deveria ser valorizada também em nossas comunidades.
Os títulos dados a Febe evidenciam que ela era uma autoridade na comunidade local. Paulo diz que ele próprio recebera dela auxílio e proteção em sua estada em Corinto. Por isso não hesita em recomendá-la aos membros da comunidade de Roma: esses devem recebê-la bem e ajudá-la no que for preciso, assim como a própria Febe costuma fazer com os cristãos que passam por Corinto.
Chama a atenção a coragem de Febe. Pois empreender uma viagem marítima a Roma não era, na época, nada tranquilo. Para uma mulher era até perigoso. Certamente Febe não planejou essa viagem somente para levar uma carta de Paulo. Ela deve ter tido interesses ou negócios a tratar na capital do império. Talvez Febe tenha sido uma comerciante. Paulo aproveita, então, a viagem de Febe para enviar em mãos uma carta à comunidade de Roma. Para Febe, a carta é importante, pois ela abre as portas de casas onde será recebida e acolhida e onde, caso necessário, obterá ajuda para os seus propósitos na capital. Após ser recebida na comunidade de Roma, Febe teria a oportunidade de ler a carta de Paulo e dar mais informações sobre o apóstolo Paulo e o seu projeto de visitar a comunidade.
Atrás de poucas linhas pode-se, portanto, vislumbrar como pessoas pouco conhecidas contribuíram para o crescimento das comunidades. Assim como Febe, muitas outras mulheres desconhecidas exerceram funções importantes para a sobrevivência da igreja.



* Especialista em Antigo Testamento, ministro da IECLB, residindo em Kassel, na Alemanha


Referência

KILPP, Nelson. A diácona de Cencreia. Revista Novo Olhar. Nº 45,  São Leopoldo, maio e junho de 2012. Retratos, p.32.




sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pois é... mais um ano se passou...


Para este retiro, um programa especial: o local será no Lar Vila Elza em S. Bento do Sul/SC.
Àquelas que não puderam ir: nosso apertado abraço e que se sintam enlaçadas em oração, carinho e saudade pela falta que fazem...
Àquelas que vão... hum... que delícia que será!


Até logo mais, que o ônibus já nos espera!


domingo, 22 de abril de 2012

Um grupo de mulheres diferente




por Rosane Philippsen

Professora e teóloga


Em junho de 1997 foi lançado um convite. Mulheres da comunidade Bom Pastor são chamadas a refletir sobre o tema do ano da IECLB, “Deus nos reconciliou consigo por Cristo” a partir da seguinte ótica: “As mulheres como promotoras da reconciliação”.
A novidade ficou por conta do formato: as mulheres foram convidadas a participar do REANIME 97 (Retiro Anual de Incentivo às Mulheres Evangélicas) “com o objetivo de oportunizar a confraternização, a reflexão e o descanso, numa oportunidade inédita de desenvolvimento da espiritualidade das mulheres desta comunidade.” [1]
De certa forma, a chamada para o retiro já era pretenciosa: já se pensava em algo anual. Também foi desafiador, pois tinha-se que lidar com a dificuldade de se animar as mulheres a saírem de suas casas durante todo um final de semana. “Como vou deixar meus filhos, meu marido, minha casa?”
Neste tempo ainda não havia um grupo organizado – existia sim a OASE Madalena, grupo tradicional e fundamento da comunidade Bom Pastor. Porém, as mulheres que estavam por trás desta proposta de retiro, na sua maioria não podiam participar das reuniões da Ordem de Senhoras, pois elas aconteciam durante a semana, à tarde. Este horário inviabilizava a participação de mulheres que estavam no mercado de trabalho – daí começa a germinar esta proposta diferenciada.
No começo, as reuniões eram às quintas-feiras à noite. Com o tempo, passou para os sábados à tarde. Algumas pessoas perguntaram porque não criamos então uma outra OASE, que atendesse esta questão de horário. Mas a questão não era criar outro grupo. No início, o que foi pensado foi um retiro para mulheres, fossem da OASE ou simplesmente da comunidade.
Na verdade, o grupo surgiu depois, a partir das questões levantadas nos retiros, estas mulheres sentiram a necessidade de continuar refletindo e conversando sobre assuntos diretamente relacionados à temática feminina.
Com o tempo o grupo foi se organizando, porém suas atividades sempre foram voltadas para propiciar o próximo retiro. Como qualquer realização necessita de recursos, o grupo de mulheres promoveu eventos comunitários como a “Noite do Ridículo”, “Noite das Massas”, “Feijoada”, “Café Colonial”.
Passou a atuar junto com a OASE e outros departamentos da comunidade na realização do Chá da Primavera, Bazar de Natal, etc. Internamente, o grupo realizou jantares de encerramento, passa-dia em locais aprazíveis como Araucária, Ouro Fino em Bateias, Caminho da Uva em Colombo, Circuito Turístico de São José dos Pinhais, etc.
Com os retiros, o grupo MEL conheceu locais muito interessantes para tal atividade: Desde o Lar Luterano de Retiros, Betânia, Rogate, em Rondinha, Santa Felicidade, N. Srª. Salete, até São Bento do Sul, no Vila Elza.
Marcas dos retiros: temas e palestrantes como diferencial qualitativo; o altar no centro da roda, as brincadeiras, o “social” dos sábados à noite, as tristezas e as alegrias compartilhadas, sempre num combinado de respeito e sigilo.
Inquieto, o grupo MEL sempre se perguntou por sua missão e com o tempo ficou claro que o objetivo é reunir mulheres, promover crescimento espiritual e pessoal, fortalecer amizades, buscando ser um grupo terapêutico integrado e a serviço da comunidade.


[1] Chamada do folder para o primeiro retiro.